Sendo leitora, eu gostaria de compartilhar o primeiro ensaio sobre a obra Poética (Aristóteles), que produzi durante a graduação em Letras-Inglês, na disciplina de Literatura, Teoria e Crítica I, que propôs o trecho motivador:

     Dizem que, nos anos 20, o escritor americano Ernest Hemingway conseguiu escrever em um guardanapo uma estória trágica com apenas 6 palavras.

“For sale: baby shoes, never worn”

     Se essa frase foi criação (ou não) de Hemingway, o que importa é que provoca no leitor alguma inquietação. Pensando sobre ela, discorra sobre os conceitos aristotélicos de mimese e catarse.

 Imagem: https://pixabay.com/pt/photos/escultura-bronze-figura-arist%c3%b3teles-5397886/

Minha resposta:

A obra em questão abrange aspectos importantes e fundamentais da visão filosófica aristotélica em relação às bases do drama. O pensador grego então diverge de Platão, seu principal mentor, e analisa criticamente a composição literária e poética acerca de referências de sua época, defendendo a liberdade de interpretar a realidade por intermédio da imitação - Mimesis. Assim, conduz algumas regras que dão ênfase ao estudo da Tragédia, ou seja, a imitação ou representação de uma ação humana completa ou de fatos que inspirem temor e compaixão, baseando-se também no pensamento e caráter de quem irá representá-la.

Dentre os elementos que constituem a tragédia, a estruturação dos acontecimentos ocupa uma posição de destaque, principalmente quando há nesta, enredos “belos” (fatos acidentais dignos de admiração). A música representa, conforme as palavras do autor, “o maior dos embelezamentos”.

Neste sentido, menciona também a poesia como detentora de um caráter mais elevado e filosófico, capaz de contar sobre o que é possível ou sobre o que poderia acontecer.

 E em relação ao homem, destaca que é natural e prazerosa a ação de imitar, ainda que haja improviso, pois este justifica a natureza humana em virtude da tendência para a imitação. Sobre os poetas, Aristóteles defende que estes não deixarão de ser poetas caso escrevam sobre fatos reais, contrariando os historiadores, que relatam exatamente os eventos que realmente aconteceram.

A Catarse, por outro lado, mas em conjunto ao conceito de Mimese, representa, a “purificação” das paixões ou descarga emocional do espectador ao final do desenvolvimento da tragédia. É o momento em que tais sentimentos são evidenciados quando os acontecimentos, interligados, proporcionam resultados contrários às expectativas. Aristóteles então menciona que, quando os fatos parecem acontecer de propósito, enriquecem os enredos (ações simples ou complexas).

Para a compreensão do estudo poético a partir de critérios objetivos, o autor faz referência também aos conceitos de Peripécia, que é a “passagem da ignorância para o conhecimento, para a amizade ou para o ódio entre aqueles que estão destinados à felicidade ou à infelicidade”. O Reconhecimento, também elemento do enredo, quando acompanhado de peripécia “suscita compaixão e temor”, em suas palavras.

Com ênfase na ideia de que a imitação deve basear-se na realidade, o filósofo destaca que não deve existir irracionalidades e nem, de maneira forçosa, expor uma ação determinada pelo acaso (inclusive através da narração) na tragédia, mas deverá conter início, meio e fim, a partir de enredos dramáticos e em torno de uma ação única e completa.




 


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