O
filme, em consonância com a disciplina em questão, aborda diversos elementos
que contribuem para a construção do pensamento, como as memórias, as emoções e
as relações interpessoais. A maturação fisiológica das estruturas cerebrais e
as ligações sinápticas são influenciadas pelas experiências vividas pelos
indivíduos ao decorrer de suas trajetórias e têm também relação direta com as escolhas
pessoais futuras.
Inicialmente,
a protagonista Riley Andersen tem sua
personalidade desenhada por aspectos determinantes de sua percepção acerca de
mundo e de interação com seus pares. Neste sentido, é relevante considerar que,
em oposição à teoria comportamentalista (behaviorismo), a aprendizagem tem
influência, não somente do ambiente em que o indivíduo se insere, mas também
das relações sociais e das trocas de experiências humanas.
Durante
a animação, são notadas algumas características intrínsecas de comportamento da
personagem principal, coerentes com o modo como reage às adversidades e que
possam expô-la a qualquer traço de insegurança. Assim, é possível observar que
determinados elementos psicológicos, como os sentimentos de alegria e tristeza
– basicamente antagônicos, são também capazes de tornar único o universo da
criança, com suas preferências e particularidades.
Riley,
aparentemente alegre e sociável, possui capacidade de internalizar
acontecimentos importantes de sua vida, até então. Entretanto, é receosa para
enfrentar uma nova realidade e demonstra dificuldade para lidar com as mudanças
– distância dos amigos e de suas melhores lembranças. A percepção de um lar
torna-se distorcida e confusa quando percebe que não é capaz de se adaptar
àquela situação.
Paralelamente
ao pensamento do biólogo Jean Piaget (1896-1980), sobre a epistemologia do desenvolvimento,
o comportamento de Riley pode ser associado aos dois últimos estágios
cognitivos sensoriais ou, especialmente ao chamado estágio hipotético-dedutivo,
que diz respeito à idade correspondente ao domínio do pensamento abstrato.
Sendo assim, é razoável a ideia de que o desenvolvimento de personalidade da
criança em questão transita entre as estações de sentimentos indefinidos e as
memórias de longo prazo.
A
rebeldia da menina caracteriza justamente uma consequência ao estabelecimento
de pressupostos acerca de fatos imaginários, além de uma necessidade de
desafiar e ressignificar o próprio ser, a partir do pensamento crítico, diante
de inúmeras transformações que acompanham o seu processo de amadurecimento.
Ainda
em relação ao pensamento behaviorista, o filme assume uma postura crítica-negativa,
e ao mesmo tempo favorável, às memórias antigas de conhecimentos que foram
adquiridos a partir do treino automatizado/mecânico, como o de memorizar as
aulas de piano ou o nome das princesas dos desenhos animados. No entanto,
apesar de terem sido relativamente esquecidas, lembra a personagem Alegria de
que tais memórias são relevantes para a formação de Riley.
Sobre
a importância das emoções, o filme estabelece uma relação de interdependência
entre os sentimentos, que se fazem necessários para administrar os desafios da
vida. Em determinados momentos, a menina demonstra receio sobre o julgamento
alheio, insatisfação, desapontamento e inconformidade com uma situação
específica. Apesar do caráter melancólico da Tristeza, é enfatizada a ideia de
que o sentimento de aflição não pode ser ignorado e que a empatia pode
despertar a solidariedade de pessoas próximas.
Em
virtude dos acontecimentos negativos, o bloqueio do mecanismo de agir pode ser
interpretado pelo telespectador como uma consequência da presença de tristeza
ou da ausência de alegria, ou seja, de motivação. Portanto, é relevante
ressaltar sobre a necessidade de manutenção do interesse da criança sob o
auxílio da imaginação e da criatividade, como incentivos ao processo de
aprendizagem.
A
Alegria, representada por uma luz inesgotável e persistente, também demonstra
fragilidade quando as circunstâncias parecem definitivas e sem solução.
Todavia, não se rende e busca aproveitar, inclusive as dificuldades, para aprender
e seguir adiante em prol do amadurecimento pessoal.
A
mente humana, como sugere o filme, possui a capacidade de moldar as ações dos
indivíduos e necessita de amparo social – a relação entre o sujeito e a
sociedade, assim como afirma o psicólogo Lev Vygotsky (1896-1934). O estudioso
conclui também que é importante a interação das pessoas com o ambiente em que
se inserem, para que haja uma experiência significativa. Então, o conforto e o
apoio da família, em conjunto com um ambiente acolhedor, podem ser considerados
relevantes para a manutenção dos laços de amizade e afetividade, que auxiliam
no desenvolvimento da criança.
O final da animação é marcado pelo equilíbrio da Alegria e a Tristeza que, além da reconstrução das ilhas de personalidade já existentes, contribuiu para o surgimento de outras em decorrência de uma experiência negativa. O telespectador é convidado a refletir sensivelmente sobre a harmonia entre as emoções e a aprendizagem, que devem ser adaptadas aos diferentes contextos, impostos ao decorrer da vida de cada ser humano.
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