Sendo leitora, vou compartilhar com vocês a minha reflexão (um tanto filosófica) sobre uma animação infantil, riquíssima de ensinamentos sobre o comportamento e características emocionais humanas: "Divertida Mente" (Inside Out), de Pete Docter e Ronaldo Del Carmen. Vejam só!👀

O filme, em consonância com a disciplina em questão, aborda diversos elementos que contribuem para a construção do pensamento, como as memórias, as emoções e as relações interpessoais. A maturação fisiológica das estruturas cerebrais e as ligações sinápticas são influenciadas pelas experiências vividas pelos indivíduos ao decorrer de suas trajetórias e têm também relação direta com as escolhas pessoais futuras.

Inicialmente, a protagonista Riley Andersen tem sua personalidade desenhada por aspectos determinantes de sua percepção acerca de mundo e de interação com seus pares. Neste sentido, é relevante considerar que, em oposição à teoria comportamentalista (behaviorismo), a aprendizagem tem influência, não somente do ambiente em que o indivíduo se insere, mas também das relações sociais e das trocas de experiências humanas.

Durante a animação, são notadas algumas características intrínsecas de comportamento da personagem principal, coerentes com o modo como reage às adversidades e que possam expô-la a qualquer traço de insegurança. Assim, é possível observar que determinados elementos psicológicos, como os sentimentos de alegria e tristeza – basicamente antagônicos, são também capazes de tornar único o universo da criança, com suas preferências e particularidades.

Riley, aparentemente alegre e sociável, possui capacidade de internalizar acontecimentos importantes de sua vida, até então. Entretanto, é receosa para enfrentar uma nova realidade e demonstra dificuldade para lidar com as mudanças – distância dos amigos e de suas melhores lembranças. A percepção de um lar torna-se distorcida e confusa quando percebe que não é capaz de se adaptar àquela situação.

Paralelamente ao pensamento do biólogo Jean Piaget (1896-1980), sobre a epistemologia do desenvolvimento, o comportamento de Riley pode ser associado aos dois últimos estágios cognitivos sensoriais ou, especialmente ao chamado estágio hipotético-dedutivo, que diz respeito à idade correspondente ao domínio do pensamento abstrato. Sendo assim, é razoável a ideia de que o desenvolvimento de personalidade da criança em questão transita entre as estações de sentimentos indefinidos e as memórias de longo prazo.

A rebeldia da menina caracteriza justamente uma consequência ao estabelecimento de pressupostos acerca de fatos imaginários, além de uma necessidade de desafiar e ressignificar o próprio ser, a partir do pensamento crítico, diante de inúmeras transformações que acompanham o seu processo de amadurecimento.

Ainda em relação ao pensamento behaviorista, o filme assume uma postura crítica-negativa, e ao mesmo tempo favorável, às memórias antigas de conhecimentos que foram adquiridos a partir do treino automatizado/mecânico, como o de memorizar as aulas de piano ou o nome das princesas dos desenhos animados. No entanto, apesar de terem sido relativamente esquecidas, lembra a personagem Alegria de que tais memórias são relevantes para a formação de Riley.

Sobre a importância das emoções, o filme estabelece uma relação de interdependência entre os sentimentos, que se fazem necessários para administrar os desafios da vida. Em determinados momentos, a menina demonstra receio sobre o julgamento alheio, insatisfação, desapontamento e inconformidade com uma situação específica. Apesar do caráter melancólico da Tristeza, é enfatizada a ideia de que o sentimento de aflição não pode ser ignorado e que a empatia pode despertar a solidariedade de pessoas próximas.

Em virtude dos acontecimentos negativos, o bloqueio do mecanismo de agir pode ser interpretado pelo telespectador como uma consequência da presença de tristeza ou da ausência de alegria, ou seja, de motivação. Portanto, é relevante ressaltar sobre a necessidade de manutenção do interesse da criança sob o auxílio da imaginação e da criatividade, como incentivos ao processo de aprendizagem.

A Alegria, representada por uma luz inesgotável e persistente, também demonstra fragilidade quando as circunstâncias parecem definitivas e sem solução. Todavia, não se rende e busca aproveitar, inclusive as dificuldades, para aprender e seguir adiante em prol do amadurecimento pessoal.

A mente humana, como sugere o filme, possui a capacidade de moldar as ações dos indivíduos e necessita de amparo social – a relação entre o sujeito e a sociedade, assim como afirma o psicólogo Lev Vygotsky (1896-1934). O estudioso conclui também que é importante a interação das pessoas com o ambiente em que se inserem, para que haja uma experiência significativa. Então, o conforto e o apoio da família, em conjunto com um ambiente acolhedor, podem ser considerados relevantes para a manutenção dos laços de amizade e afetividade, que auxiliam no desenvolvimento da criança.

O final da animação é marcado pelo equilíbrio da Alegria e a Tristeza que, além da reconstrução das ilhas de personalidade já existentes, contribuiu para o surgimento de outras em decorrência de uma experiência negativa. O telespectador é convidado a refletir sensivelmente sobre a harmonia entre as emoções e a aprendizagem, que devem ser adaptadas aos diferentes contextos, impostos ao decorrer da vida de cada ser humano.




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