Sendo leitora, quero compartilhar com vocês a minha interpretação sobre a Alegoria da Caverna (Platão), também conhecida como "Mito" ou "Parábola" da Caverna. Este foi mais um ensaio que produzi nos anos iniciais da segunda graduação (Letras-Inglês), na disciplina de Literatura, Teoria e Crítica II. Obs: apreciem sem moderação! 😄😂😁

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A obra em questão pode ser analisada paralelamente às metodologias contemporâneas de construção do saber e de uniformidade organizacional da sociedade. Em seu texto, Platão traz algumas críticas importantes ao modelo democrático e governamental instalado à época, na cidade de Atenas, Grécia. Como discípulo de Sócrates, Platão insere o filósofo como personagem principal para desencadear uma série de debates sobre as facetas da Filosofia e seu papel relevante na constituição de um Estado e seus membros.

À medida que avançam as argumentações sobre as características favoráveis da sociedade que almejava, Platão assume a própria identidade de suas ideias. Alguns temas da obra podem ser comparados à noção atual de leis e costumes que direcionam o convívio social. No entanto, as discrepâncias entre a concepção filosófica ideal e a oposição ao pensamento socrático e platônico corroboram para uma análise mais profunda sobre o papel da educação configurado em uma abordagem ética, científica, humanista e solidária do desenvolvimento humano.

“A educação é, pois, a arte que se propõe este objetivo, a conversão da alma, e que procura os meios mais fáceis e mais eficazes de conseguir. Não consiste em dar visão ao órgão da alma, visto que já a tem; mas, como ele está mal orientado e não olha onde deveria, ela esforça-se por educá-lo na boa direção.” (p. 302)

A educação é alocada como um dos principais temas de discussão do processo de amadurecimento do ser humano. O conhecimento e a sabedoria são comparados ao fogo e à luz solar, e a ignorância comparada à escuridão que se encontra no interior de uma caverna, habitada por indivíduos acorrentados e privados de interação com o mundo externo. Sócrates sustenta o argumento de que o ensino para as crianças deve ser livre de cobranças para que sejam naturalmente inseridas no universo do conhecimento.    

O diálogo acalorado entre Sócrates e Trasímaco revela também aspectos importantes sobre a essência da justiça, que pode encontrar diferentes definições sob o ponto de vista comum e individual - tese esta desconstruída e reformulada por Sócrates, que defende o pensamento de que a justiça existirá em cada habitante de uma cidade genuinamente justa. O conceito entre o que é justo e injusto acarreta uma reflexão sobre o julgamento dos homens a respeito da conveniência, oportunidade e boa reputação para angariar vantagens, em oposição à salvaguarda, harmonia e honestidade para instituir a ordem e a sabedoria.

          Além de afirmar como mais vantajosa a ideia de justiça, Sócrates também define como ideal a manutenção e legislação da polis sob responsabilidade de pessoas que se encontram à frente de seu tempo, ou seja, os filósofos: sujeitos virtuosos, capazes de questionar, de vislumbrar a segurança e a educação com perfeição, e que sejam dotados de graça, decência, coragem, bondade, sabedoria, moderação, boa memória e facilidade de aprendizagem. Neste sentido, o personagem demonstra insatisfação por não existir um modelo de poder sob as bases filosóficas, e por isso, tende a corromper-se.

De forma análoga ao modelo de organização política e jurídica do Estado idealizado na obra de Platão, a sociedade atual encontra-se, muitas vezes, diante de uma democracia seletiva ou polarizada, que estabelece leis e regulamentações em favor de poucos indivíduos. A obra defende que não há necessidade de legislar ou estabelecer prescrições em matérias que envolvem o comportamento de indisciplina e violação dos direitos, pois as pessoas dotadas de honra têm a capacidade de compreender facilmente sobre como agir corretamente. No entanto e, diferentemente deste pensamento, a sociedade atual, em sua grande maioria, não obedece as regras de convivência por conta própria e, por isso, entende-se como necessária a determinação de uma quantidade excessiva de leis para o ordenamento social.


Imagem: https://pixabay.com/pt/photos/panorama-caverna-pedra-p%c3%b4r-do-sol-4518195/

 

 

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